Chegou neste domingo (28/02) à sua última edição impressa o jornal “Diário do Nordeste”. Com ela, emergem memórias de muitos e muitas profissionais que lá trabalharam. Faço aqui registros que têm cunho muito pessoal, pois foi lá que tive minha primeira experiência profissional, há mais de 20 anos. Ao lado de um grupo de colegas contemporâneos do então Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC), atuamos na Editoria de Política em um período de profundas transformações nos cenários municipal, estadual e nacional.
Entre 2000 a 2002, ciclos políticos caminhavam para o fim nas três esferas do Poder Executivo: em Fortaleza, o então prefeito Juraci Magalhães iniciava seu último mandato, o mesmo se dando com o à época governador Tasso Jereissati, que concluía sua terceira gestão. No plano nacional, o governo Fernando Henrique Cardoso vivia situação similar, com oposição que se consolidava e caminhava para ocupar o Palácio do Planalto.
Trata-se de um período rico e, não por acaso, bastante competitivo. Não é à toa que, pela primeira vez, tanto a eleição para a Prefeitura de Fortaleza (em 2000) e para o governo do Ceará (2002) foram decididas apenas no segundo turno, com grande competitividade, sinalizando uma reconfiguração de forças políticas que em muito explica o cenário contemporâneo. Foi neste rico triênio que pude atuar como repórter de Política, registrando fatos significativos da cena cearense para as páginas do “Diário do Nordeste”.
Assim como no cenário político, mudanças estavam em andamento também no plano da imprensa. Ainda incipiente, a Internet representava um complemento jornalístico ao que traziam jornais e revistas. As relações humanas eram intensas. Conheci profissionais com os quais atuaria em outros espaços institucionais posteriormente. Alguns inclusive que não se encontram mais entre nós e, nas figuras de Neno Cavalcante e Josafá Venâncio, faço aqui uma homenagem aos que partiram para o plano superior.
Para além das memórias que ficam, o sentimento que deve nos mover é o de que a reconfiguração vivida pelo Jornalismo seja capaz de assegurar oportunidades profissionais àqueles e àquelas que decidiram militar na imprensa e inclusive a oferta de novos postos de trabalho.
Neste particular, expresso aqui o sentimento da Diretoria da Associação Cearense de Imprensa, por meio de nota divulgada no dia 18 de fevereiro, quando do anúncio do encerramento da edição impressa do jornal: “Ao longo de 39 anos de existência, gerações de jornalistas, gráficos e outros profissionais construíram a história do veículo, dentre os quais nomes que integram a Associação Cearense de Imprensa. Para além do encerramento da edição impressa, as demissões de jornalistas e gráficos são a face mais preocupante desta data. No momento gravíssimo vivido pelo mundo, o desemprego é a pior situação a ser vivida por profissionais que dedicaram suas vidas ao jornal. Ficam aqui nossa solidariedade e apoio aos colegas demitidos”.
Que os demais veículos impressos cearenses sigam circulando. Isso pode permitir que venham a representar um diferencial no conteúdo produzido, em benefício da sociedade. É necessário que tenhamos soluções criativas e inovadoras para os produtos jornalísticos, pois nunca a sociedade brasileira precisou tanto de informação de qualidade quanto agora. Não há fórmulas definidas, pois trata-se de uma situação complexa. Mas há caminhos possíveis. Devemos buscá-los. Este é o desafio de todos e todas que atuamos na imprensa, não só no Ceará, mas no Brasil.
Salomão de Castro
Presidente da Associação Cearense de Imprensa